Certo dia estava dentro de um ônibus, em direção a um destino que fora desviado pelo rumo do meu olhar. Estava fazendo uma pequena viagem a outra cidade, quando de repente meus olhos e minha mente me fizeram ter uma viagem ainda maior. Fitando o horizonte, me deparei com uma cena infelizmente comum em nossa realidade: ao parar próximo a um semáforo notei crianças. Aparentavam ter cerca de quatro, cinco anos talvez, onde duas delas estavam vendendo balas e fazendo malabarismo frente a carros que aguardavam impacientemente o esverdear do sinal, e as outras duas crianças, meninas, sentavam a calçada cuidando do que era arrecadado. Uma coisa me chamou muita atenção naquele momento (Na verdade toda a cena me chamou a atenção! Aquilo não era normal mas se tornou comum, infelizmente), que fora a boneca que uma das meninas sentadas segurava. Por um momento, ao vê-las "trabalhando", esqueci por si só que eram crianças. Talvez não seriam mais crianças em si, pois todo aquele contexo as fizeram amadurecer rapidamente para sobreviver no sistema atual de vida, para não apodrecerem e terem sua morte decretada pela desigualdade social. Pude perceber que por mais que a todo momento muitos veículos passavam por ali, e as crianças se exibiam na tentaviva de serem observadas, elas eram só observadas. Não eram enchergadas. Não eram compreendidas. Não eram interpretadas. Está errado! São crianças!
Foi então quando tive uma outra viagem, dessa vez uma regressão em minhas ideias. Uma espécie de retrospectiva acerca de todo aquele momento. Lembrei de quantas vezes reclamei da desigualdade e não lutei para tornar igual, de quantas vezes das pessoas que tem fome mas não me propus a alimentar, de quantas vezes repudiei cenas de moradores de rua com frio e não as agasalhei. De quantas vezes esperei tudo mudar, e não mudei. Pensei que assim como eu, muitas pessoas são regadas de boas intenções e compaixão, porém tem o comodismo e o desleixo de não se movimentar. Sendo assim, em conversa com uma amiga, pensamos quedeveria haver uma ponte que ligasse as boas intenções a quem precisa. Deste modo, surgiu o BASTA.
Decidimos que conforme fosse passando o tempo, elaboraríamos uma instituição sem fins lucrativos, cujo objetivo seria lucrar sorrisos. Uma organização sem fundos, sem renda, que não vendesse nenhum outro tipo de produto a não ser sonhos. Uma ideia que não se sabe de onde vem e nem para onde vai, não se tem conhecimento de quantos ajudarão ou não, que lugares que irá passar, que pessoas irá dialogar, mas que além de estar regada de boas intenções, fosse despojada em atitudes. Sem dinheiro, porém rica.
Não vamos mudar o mundo, não iremos saciar a fome, eliminar a miséria, dar um fim a desigualdade social. O nosso objetivo é simplesmente parar de falar e fazer, por menor que seja. É dar fim as pessoas boas intenções e início as práticas de boas intenções. Afinal, por menor que seja, dar o passo do pensar para o agir é grandioso.
Caro(a) amigo(a), BASTA! Não espere mudar. Mude!
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